"Sempre me fizeram muita confusão as perguntas do género "pensas que estás na
tua casa?" ou "pensas que estás no café?". Acho que foi uma
professora de português, a primeira que me perguntou se eu pensava que estava no
café, quando um dia me viu com os pés estendidos em cima duma cadeira vazia. Eu
respondi-lhe que não, até porque no café nunca fazia aquilo. Ela expulsou-me da
aula.
tua casa?" ou "pensas que estás no café?". Acho que foi uma
professora de português, a primeira que me perguntou se eu pensava que estava no
café, quando um dia me viu com os pés estendidos em cima duma cadeira vazia. Eu
respondi-lhe que não, até porque no café nunca fazia aquilo. Ela expulsou-me da
aula.
Era óbvio que eu não pensava que estava no café, mas sentia-me tão bem ali
como na minha casa, e por isso é que tinha estendido as pernas para a cadeira da
frente. Sentia-me melhor enquanto lia Camões se estivesse ali como na minha
casa, e esse é o melhor elogio que se pode fazer a alguém. Eu achava-a boa
professora e gostava das aulas dela. Era só isso. Era um elogio.
É também assim que se está no Amor, por exemplo, exactamente como se
estivéssemos na nossa casa. Se não estivermos assim com alguém, então não é
Amor. Até pode ser bom, mas não é Amor. Será eventualmente uma espécie de
amizade, e então estamos como se estivéssemos no café, a pedir por favor que nos
tragam uma bica e esperando que nos limpem a mesa com uma toalha antes de o
servir.
O Amor é a nossa casa, porque quando ali chegados atiramos um sapato para
cada lado e andamos de meias pelo chão. O Amor é isso, estarmos sempre na
posição mais confortável para o nosso corpo e alma sem que o outro pergunte onde
é que achamos que estamos. É que estamos com ele, com esse Amor, e é por isso
que é assim. É assim no que dizemos ou calamos, no que rimos ou choramos, no que
abraçamos ou beijamos.
Foi a palavra casa que deu origem ao verbo casar (casa + ar), e é isso
mesmo que é casar. Estou a dizer isto porque ontem, depois de um dia de merda,
abracei a Raquel e pousei a minha cabeça no ombro dela durante alguns segundos e
em silêncio. Ao mesmo tempo deixei cair a mochila e o casaco no chão do corredor
enquanto me descalcei e atirei os sapatos para lugar incerto. Ela não me
perguntou se eu sabia onde é que eu estava porque ambos o sabíamos. Se não for
assim, até pode ser bom, mas não é Amor."
Roubado daqui: http://naocompreendoasmulheres.blogspot.com/