sexta-feira, 19 de junho de 2015

quem nos conhece

Faz falta um corpo que nos conheça.
Uma pessoa que nos escute e fique atento, só a ouvir com atenção.

Uma pessoa que nos conheça bem é um tesouro.

Foi das coisas que mais aprendi aqui.

Alguém que apareça e diga: "toma, isto é para ti, sei que vais gostar."

E sabe. E sabe bem.

Alguém que se chegue, que abrace e que Fique.

Aqui dizemos demasiadas vezes "até um dia". Despedimo-nos demasiadas vezes para o nosso coração. Ele não quer tantas despedidas... Não sei se aguenta.
E se não aguenta achará uma porta de saída, dirá também "até um dia" e ficará lá fechado. Até um dia...

Aqui temos que nos proteger, temos que... desligar. Para não Doer.

Não podemos ir à vizinha buscar sal, não podemos perguntar se a prima está em casa, se querem ir contigo à praia.

Não podemos.

Estamos porque queremos, mas custa na mesma.

E custa na mesma que o outro fique triste e chegue cansado porque veio, porque tudo deixou. Porque espera que seja melhor.

E tu queres dizer "vamos embora". Mas... para onde? Fazer o quê? Desistimos?

E apertas a mão com força, cerras os dentes, fechas os olhos.

Amanhã teremos mais energia. Recordaremos melhor quem somos e tudo parecerá mais fácil de enfrentar.






quinta-feira, 3 de julho de 2014

Dos tempos em que o coração pára

A música entra nos ouvidos, no escutar de dentro, percorre o corpo, chega ao coração, fica na barriga.

Aqui repousa, espalha-se, faz o corpo vibrar, arrepiar, fechar os olhos.

Escutamos com tudo.

Sentimos aquela pequena partícula de felicidade em nós.

E mantemos os olhos fechados, o sorriso cresce, a pele aquece.

Nestes dias entendo a minha inutilidade perante a vida de alguém, alguém a quem a vida deu outras pessoas para que o amem e se façam presentes. Dou os abraços que posso, converso o que acho que pode acalmar a mistura de coisas dentro de nós, digo o "gosto muito de ti" com o medo de um dia também lhe falhar.

Ele só pisca os olhinhos. Só encolhe os ombros e diz "desculpa", "tu és a única que pode brincar comigo". Quase que lhe peço desculpa por isso.

Entendo nestes últimos tempos que o corpo tem que se exprimir, que são as coisas que não se controlam que demonstram, ao olhar mais atento, o que necessitamos por dentro. Mesmo que os gritos sejam a única forma de mostrar o que nos mexe aqui, na barriga.

A atenção. O estar presente. O conhecer os gestos diferentes e tentar perceber o que podem significar, se o bem, se o mal, se o normal...

O nó fica preso na garganta.
As lágrimas saem um pouco.

A importância que damos aos títulos, aos cargos, à vida social,  às coisas que só nos tornam conhecidos, são efémeras. São para um nada que parece que não vemos.

Ser pai e mãe deve ser muito dificil, angustiante.

Mas às vezes é só preciso estar mais tempo. Só isso. Só olhar nos olhos, só desenhar, pintar, contar uma história, deixá-los falar. Não nos contentarmos com o "bem" quando perguntamos como foi a escola.
É fazer as perguntas certas. E estar lá para as fazer.

O Amor também é isso.
Deixar o outro falar mesmo que seja só de maçãs.

E todos os dias a paciência vai ficando um pouco maior, átomo a átomo.



sexta-feira, 23 de maio de 2014



As viagens

Tudo se vive com outra intensidade, com outro calor na pele.
O tempo é mais marcante.
O estar longe faz-nos sentir que uma semana é um mês, um mês 6 meses...
Acho que só isso explica tantas coisas, o viver as saudades com outra intensidade, por exemplo.

O tempo, as viagens, as aventuras.
A pessoa que éramos vai mudando e os outros irão reparar mais do que nós.

Sinto que as coisas que não se dizem me estão a fazer falta, a atenção aos pormenores tem que ser mais trabalhada. E agir nessa conformidade. Nesse estado de pensar em conjunto e independente ao mesmo tempo.
Nesse mundo de viver a bondade. A revolução.

Nesse mundo de viver um problema de cada vez, de ter no pensamento o "vai tudo correr bem e se não correr... Não estamos sós."









terça-feira, 4 de junho de 2013

Coragem. Dias de sol.


Não contei tudo, não te disse o que não querias ouvir.
Aprendi a fazê-lo à uns tempos.
Não podemos contar nada de mal em momentos em que a pessoa não pode ouvir essas coisas, enquanto o coração estiver apertadinho e a precisar de colo.

Também não o fiz porque quero estar contigo para te ouvir e dizer que o tempo passa rápido e que, em 50 anos, de facto, estes 3 ou 4 são um nada. Quero voltar a passear contigo à beira rio para ouvirmos o Vento nas folhas das árvores.

A Coragem é Amor dentro de nós.
São as Vontades e o Sol a iluminar um bocadinho os passos que damos na vida de todos os dias.

E somos  corajosos se soubermos olhar para o outro e perceber o seu fundo, colocando as nossas acções ao seu serviço.






segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Da Amizade

Não sou daquelas que se lembra muitas vezes de mandar mensagens, marcar encontros, de falar de vez em quando com os amigos.

Na verdade vou vivendo sem estar muito presente na vida de alguém. É de mim.
Convivo mais com pessoas do presente, com quem conheci num café qualquer, numa formação, no dia a dia. As vidas de cada um são mesmo assim.

Mas há daquelas pessoas em que o universo nos vai actualizando, como se... como se nos lembrasse e nos quisesse presentes de vez em quando.

"Não imaginava que aqui estavas!"
"Sim, tal como não fazias conta que eu estivesse lá no outro sitio"

Agora que penso nisto... Em duas alturas importantes na vida uma da outra encontramo-nos.

Tenho pensado muito na Amizade. Naquilo que somos capazes de fazer pelos amigos.

Dar boleia até ao outro lado da cidade, mesmo que suponha atravessar um país; pensar numa prenda diferente e a única que se vai dar nesta altura do ano; na forma como mudamos simplesmente a nossa vida para que um amigo se possa sentir em casa; jantar tarde e ficar em pé até às 3h da manhã depois de um dia de trabalho.

Somos capazes de muito.
Somos muito quando nos tornamos mais por alguém.
E esquecemos tudo, fazemos o que for preciso, simplesmente para o outro ficar contente. Mesmo que seja algo simples, um gancho com uma borboleta, um papel com uma noticia bonita...

Gosto da forma natural como tenho conhecido pessoas que se foram tornando importantes, devagarinho, dia após dia.

E gosto de, depois de algum tempo sem haver contacto, nos irmos encontrando, de mandarmos uma mensagem só a dizer que nos lembramos e estamos presentes.

Sei que isto deve acontecer a toda a gente, que isto é um assunto comum, mas às vezes, muitas vezes, esquecemo-nos deste valor tão genuino e simples que é ser Amigo de alguém. E não é só quando é preciso.













segunda-feira, 9 de julho de 2012

A magia das florestas

A manhã, na serra, estava meio escura, com humidade no ar, a chover pequenas e leves gotas em nós.

Debaixo dos carvalhos a visão, dos sentidos, entrou na magia que todos deviamos sentir.

Olhamos para as coisas com deslumbramento, em Silêncio.
Em silêncio.

"Temos que falar baixinho para vermos a natureza!"

E vimos. O pisco de peito ruivo instalou-se na rocha gigante, mostrou-se, não o tempo suficiente para podermos perpectuar o momento na máquina, mas  não faz mal. A rã, lá ao fundo, com um dos maiores poderes da vida lá fora, escondia-se confundindo-se com as plantas, o melro azul cantava-nos lá em cima.

Os tesouros são sempre fáceis de encontrar.

Temos é que fazer silênco.
Olhar para todo o lado.

Partilhamos segredos de fascinio.

A magia das estórias que as árvores têm para contar é tão quente que nos protegem da chuva.

Deviamos todos de sair mais de casa.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Das incertezas

Ontem uma senhora na televisão falava de um estilo de vida.
Dizia que fazia 10 anos de conexão com Jesus.
Da vida que mudou depois daquele momento, da energia que cada um tem dentro de si, do destino, do optimismo, da forma de encarar os problemas e mudar os acontecimentos para aquilo que queremos que mude.
"A Fé não é acreditar numa coisa que queremos para nós, mas sim acreditar que aquilo que nos está a acontecer é o melhor para nós e viver dentro dessa condição de forma positiva"
"Muda e o mundo muda contigo"

Dizia que falava com Jesus e ele com ela nos momentos de meditação.

Falava bastante na responsabilidade e é anti-vitimização.
"A partir do momento em que nos responsabilizarmos pelas consequências das nossas escolhas, mudamos a nossa vida", dizia ela.

Numa fase em que cada vez acho mais que "não nasci" para me "ligar" ou para criar uma relação tão profunda com Jesus ou Deus ou "algo superior", estas palavras levam-me a acreditar mais nesta minha crença de "anti-religião", de...qualquer coisa.

E não sinto esta "quebra", se é que se pode chamar assim, de forma agressiva, de forma revoltada.
Não, pelo contrário, sinto-o de forma muito tranquila.

Não aconteceu nada na minha vida que me fizesse ser contra as entidades superiores, acredito no que as pessoas sentem e fazem por acreditar em Deus, rezo e participo nas eucaristias.
Simplesmente, depois de muitas tentativas, começo a achar que esta necessidade que me imponho de acreditar mais não faz sentido na pessoa que sou.

As pessoas todos os dias me provam que são o suficiente para mim.
Este acreditar nas acções boas dos humanos não me leva a achar que Jesus é tudo para nós, que ele é o nosso Pai, que sem ele não havia boas obras (não sei se será esta a frase mais correcta...).

Não vou dizer a tipica frase "respeito quem acredita" ou "acredito em algo superior". Também estas frases não fazem muito sentido na pessoa que sou. E não faz sentido, porque acho que consigo sentir e perceber a Fé, consigo perceber quando as pessoas falam de Cristo com alegria e tranquilidade, em como Ele as faz sentir em Paz e as ajuda a ser melhores pessoas.
Eu sinto uma espécie destes sentimentos quando oiço músicas bonitas ou oiço testemunhos de Amor.
Bem, até pode não ser a mesma coisa... Mas fico a achar que sim, porque me sinto muito bem nestas duas ocasiões.

Acho que no fundo o Universo e a magia que nos liga é o que nos faz boas pessoas e nos coloca aparentes "acasos" que acabamos por dar um significado. Uns chamam Deus, outros coincidência, outros algo superior... Eu acho que lhe chamo Universo, vida...

Jesus falou-nos do Amor incondicional, da bondade, do respeito e na força que os homens têm para mudar a vida dos outros. É esta "novidade" que sinto em mim, que trago comigo, que me leva às eucaristias.
Acredito no Amor e nas palavras que ele proclamava pelos povos, muito porque ele era bondoso, que me faz sorrir e arrepiar quando as pessoas falam e fazem coisas boas em nome dEle.
Não me sinto "falsa" em dizer que não me sinto ligada profundamente com Jesus e não alimentar essa pequena ligação e depois ir às missas. Vou por causa do Amor. E esta é uma das últimas conclusões que tiro das minhas acções.

Acho que uma das melhores coisas do mundo é termos algo que nos move e nos faz sentir em Paz.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

A chuva que cai é sempre bonita. É uma ode. Um cântico.

As viagens longas, o tempo até chegar, as amêndoas saborosas guardadas, os nervos e ansiedade que sente no meu primeiro dia de trabalho.
Há sempre alguém a quem queremos contar as coisas engraçadas do dia, o que nos fez pensar mais um pouco, o que fizemos de bom e de mau.
A justiça é toda a gente do mundo ter alguém com quem falar e a vontade de o fazer.
Hoje não é um dia assim tão especial, não marcamos o aniversário ou uma data especifica, mas acho que é por isso que quero contar-te.
Irias gostar de o conhecer, de o ver, de rir com as suas piadas e palhaçadas que faz só para me fazer rir.
Irias gostar de saber que ele faz coisas como se fosse um principe verdadeiro das estórias de encantar.
Reconhece os meus gestos e percebe os simbolismos, as razões. Cresceu na bondade e nos pormenores e eu cresci no olhar para o que faz sentido.
Irias gostar de conversar com ele. Ele sabe o que nos liga e como pensamos.
Ele sabe que tu és a luz e que o que nos temos entre nós é eterno.
Ele sabe.
E sente-o.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

As viagens ao centro de nós

Há alturas em que sabemos "epa gosto mesmo disto, o meu futuro é aqui", "o meu sonho é este"
Mas depois vamos até outras "paragens" e deixamos de saber tão bem e tão concretamente o que nos interessa.
Não sei explicar porque se sente esta "inexistência de sentires que se sentiam", de certezas, de objectivos.
Acho que temos sido levados a pensar e a fazer coisas que não sabiamos e nem tinhamos pensado fazer.
Esqueçam as conversas de "a experiência é importante, os desafios, os bla bla blas".
Esqueçam as vantagens e desvantagens.

O tempo anda, uma semana de cada vez, um dia cumprido ao final da noite.

Não sei explicar porque é que já não sinto a certeza daquilo que quero fazer no futuro. Só sei que não é porque quero fazer isto.
Acho que alguma coisa fugiu de mim. Acho que é isso.

Não acho que seja por teimosia ou birra o que digo sobre o presente.
Acho que até tenho jeito, levo o rádio para o quarto delas para ouvirem o terço e a missa porque sei o quanto simbolico é esse gesto. Mas recuso-me a ver os seus olhares, a aceita-los. A aceitar o espaço, as rotinas, a tão grande falta de projectos...

Acho que no fundo o sitio vai contra a minha maneira de ser e isso está a entrar em colisão com o que sinto.
Eu sou da liberdade, do espaço aberto, das cores, do tempo de sobra.
E não é isso que há.

A evolução da vida não devia ser isto.
Acho que deviamos de ter um mecanismo interno que nos impedia de aceitar as tardes sentadas no sofá à espera.

Acredito que haja gente cansada demais, que apenas querem um momento de sossego.
Aceito.
Mas por vezes...quase sempre...custa.