sexta-feira, 19 de março de 2010

1ª semana

Pois. É isso.

Acabo esta semana a ouvir "Não sei falar de Amor".

E não sei. Ainda não sei. Continuo sem saber o que raio se passa neste mundo.

Estou mais pequena. Tenho o espirito reduzido a um simples sinal de existência.

A semana começou com um adeus. Um daqueles que evitamos a todo o custo pensar que algum dia também nos tocará.

Ele disse que a amava, que gostava dos eternos abraços.
Ela disse que a amava. Que tinha saudades dela.

Foi uma despedida tão dolorosa...
Cantamos para ela. Uma canção de Deus.

"Estamos todos em comunhão"

Gostava de saber quem é que inventou a Fé.
Queria tanto mas tanto agradecer-lhe...

Vai ajudá-lo tanto, avó...

Depois os dias continuaram.
Eu sentada numa cadeira. O computador à minha frente.

Percebi uma coisa. Já não sei muito bem estar comigo.

Dantes ainda dizia que gostava de estar sozinha, depois deixei-me estar com os outros, estar assim como quem está, deixar-me ouvir, deixar-me falar, deixar-me...

Agora não sei conciliar as duas coisas. Que idiotice.

Fico estranhamente insegura, com a ideia de que não tenho capacidades para levar as ideias para a frente.

Não há à minha volta pessoas que olhem por mim e parece que só com alguém a olhar por mim é que tenho vontade e motivação para andar.

Como se voltasse a ser criança.

Já fiz alguém ficar triste, porque exijo que diga as coisas certas, que me traga a perfeição que falta aqui...

Desculpa. Peço-te coisas impossíveis. Não consigo pedi-lo a mais ninguém.

Eu sei que tenho que ser eu a levar as coisas para a frente, mas nunca ninguém disse como é que se começa do zero.
Dúvido de mim.

Eu quero tentar. Mas tenho que arranjar algo aqui que me faça ter uma referência.

Pensei em Deus.
Mas não tenho esse direito.
Não agora.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Segredo

Quando estava sentada à espera de ir ao altar falar-te ia desmaiando.
Não deixei que o meu corpo cedesse para não se preocuparem comigo, para conseguir dizer-te o que queria.

Antes de ir para a igreja sentei-me ao teu lado.
Senti-me estranhamente tão tranquila...

Não sei como aguentei ver-te uma última vez sem cair com o joelhos no chão, sem chorar.

Não sei como se aguenta simplesmente...

Só sorri.
Só consegui-a pensar "sentes o sol na tua face?".

Desculpa não ter estado lá na hora.

Tenho tanto medo de me esquecer da tua cara, avózinha...

Às vezes já acontece. Mas depois penso só nos teu olhos, depois só no teu nariz, depois só na tua boca, nas tuas mão... Isso consigo. O todo já é mais dificil.

A tua voz já não consigo quase nada.

Desculpa.

Oiço-te com outra coisa que não os ouvidos.

Fui ver um teatro. Do ritual, das coisas que se esperam.

Quase que falava de nós.

Digo quase, porque eu não esperei.

Não queria esperar. Não queria ver-te deitada, não queria ver as feridas, as coisas más.

Tenho saudades tuas, de te ouvir, de me chamares.

Sim, é da voz que tenho mais saudades.
E dos teus olhos, os olhos azuis.

Ainda há uma coisa que se mantem, como se ainda estivesses lá, aquele diálogo quando saía de casa.

- "até logo, vó"
- "até logo. boa sorte e boa viagem."

Ainda quase que o digo.
Ainda quase que o oiço.

Esta é uma das coisas que ainda se mantêm.

"temos que deixar os nossos mortos irem, temos que deixar correr a maré".

um beijo.

terça-feira, 2 de março de 2010

Criança. Infância. Sossego.

Atravessamos uma estrada escura, sem luz, sem vento, sem sombras, sem nada.

Atravessamos a estrada sem ninguém ao lado.

Atravessamos a estrada assustadas, com medo dos carros, com medo do choque, de um abismo desconhecido, mas não tão grande como este.


Este é o dia em que nos afastamos e colocamos por terra o que tinhamos construído.


Pergunto: "Como é possível, avó? Como é que deixaram de nos proteger e nos deixaram sós na estrada? Como é que se consegue ser tão... inesperado?"


Só se consegue acalmar o espirito externo das crianças.

O espirito que não se vê continua lá, assustado, aos gritos, dizendo que tem medo, que não vê a luz, que não sabe onde está. Aquele que só consegue dizer "eu não quero voltar para trás!".



Somos crianças.



Daquelas que pedem ajuda às mamãs ao telefone.

Daquelas que só pedem A voz que as acalme. "Não me venhas buscar, fala só comigo! Estou assustada".


Loucura. Palavras soltas e mordazes, feridas, com o olhar perdido, pouco fixo, palavras desconexas e insignificantes.



Sabes vó, não tenho palavras mágicas.


Queria só que as pessoas não fossem más.


Acho que sou como tu.


Tinha escrito um texto para ti. Falava do cheiro das livrarias. Acho que vais gostar. O primeiro. Achava eu.


Foste cúmplice do seu segredo. Posso pedir-te que...