terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O respeito pelas saudades e falta que nos faz

"Parabéns avó da Andreia"

(sorri)

"Queres rezar?"

"Sim"

"Avé Maria...."

"Pai nosso..."´

Depois veio uma outra que depois de várias tentativas lá se lembra como é.

"Queres dizer mais alguma coisa?"

"Não" (porque não queria chorar. queria só que ficassemos assim, mesmo tendo pensado "espero que ela esteja bem")

Mas ele disse... (!)

"Espero que esteja bem no sitio onde está e que esteja a olhar por ti. E pronto. É só isso"

E lá veio uma lágrima.
Ele não viu. Estava escuro.

Dei-lhe um abraço.

E depois passou.

Não quis dizer parabéns. Não posso dizer mais isso.

Levei-te umas flores, uma amarela e duas laranjas. Foram escolhidas por mim, assim. As três como dantes: eu, tu e a minha mãe. 3. A amarela eras tu.

Ela também foi aí. Quase dois anos depois.

Disse "Ela vai perceber porque é que só vim agora aqui"

Claro que percebe, minha querida, os anjos tudo entendem, tudo vêem, tudo respeitam.

Contast-lhe segredos de milagre e de amor.
Andas-te descalça com ela pelas ruas do trabalho e da familia.
Foste a companhia, a prova de que ela valia tudo a pena, até a única prenda que se comprava no natal.

Minha querida, um dia vais conseguir perceber que a vida corre e que é assim, que se vive sem ela mas sabendo que sempre esteve.

Sabes, ainda não entendo, ainda me faz tanta confusão tudo isto parecer uma vida depois de acordarmos de um sonho... Tenho aquela sensação de ter estado muito tempo numa sala de cinema a ver um filme durante horas e horas... Depois saí cá para fora e ainda acho que aquelas personagens estão na minha vida..

Ajoelhamo-nos as duas.
Em momentos diferentes, em lados opostos.

Vivemos vidas separadas com ela, tu antes, eu depois. Por turnos.

Um dia perguntaram-me "Como é que queres ser lembrada quando morreres?"
No domingo, enquanto ia para casa, respondi:
"Quero ser como a minha avó."

Por muitas razões, mas no fundo porque mudou as pessoas, porque lhes tocou, porque a sua partida mudou-nos o mundo. E não porque ficamos tristes, mas porque deu o que havia e isso foi reconhecido e chorado.
Porque até durante 21 anos na cama sabia cantar, dobrar panos, contar histórias e ensinar a atar os atacadores,a dar moedas para o autocarro e... a Amar... e a reconhecer as pessoas que lhe estavam no coração. E ria mesmo quando as dores eram montanhas muito pesadas. E também ralhava quando riamos demais e lhe doia a cabeça.

Sim, foi só mãe e avó.

E sim, não me importo que seja apenas por isto que seja lembrada, mesmo que as gerações seguintes nem saibam de nada.

1 comentário:

diga lá então...