segunda-feira, 9 de maio de 2011

Não sentes nada

Entrei em transe.
A noite acabou tarde.
O cansaço era algum.
Sentada num banco, ao final do dia, olho para aquela mãe que dá um jeito no cabelo da filha.
Os ganchos teimam em não prender, caem, soltam-se.
Não oiço, não penso... Só sinto a minha cabeça encostada naquele ombro.

Depois... a mãe pára, consegue que se prenda o cabelo e... e eu acordo. Não um acordar de quem dormia de olhos fechados, mas um acordar de quem está em transe.

Olho para ele e sorrio.
A menina coloca alguns brinquedos em cima do banco.

Estamos os dois assim. Sinto-o.
Num estado contrário ao de alerta. Num estado em que a verdade e a realidade nos aparece e nós aceitamos o que se nos depara diante dos olhos.

Não dizemos nada.
Só sorrimos pelo nosso estado de transe.

Valeu a pena. Pela alma que é grande e não se vê.

"Eu conheço um atalho" digo eu.
Mas gostava de não conhecer.

Porque estamos sempre com pressa, nos dias de hoje, e não devíamos.
Queremos sempre chegar a horas, sempre pelo caminho mais rápido para chegar a um sitio e ver uma determinada coisa que acaba rapidamente.

Acho que o Amor é aquilo que sentimos quando não falamos e estamos em transe. Em que os sentidos são "acordados" à medida que são "tocados". E o Amor toca em todos, mas só alguns de cada vez...
E hoje, num dia assim como este, gostava de dizer que estamos onde deviamos estar. E se não estivéssemos, estaríamos mais tarde, ou até antes.
Digo também que aquele ombro que me acolheu, durante um bocadinho, naquela hora e em estado de transe me fez sentir como se estivesse a chover lá fora e estivéssemos à frente de uma lareira a ouvir estórias de alguém que sabe contar e inventar.
Fez-me sentir bem. Fazes-me.
Eu Sou contigo.
O Bem e o Mal.
A Verdade e a Vontade.
As Palavras fáceis e as frases que não se percebem.
Eu sinto aquela coisa que se sente quando vamos ver um concerto de uma banda que não conhecemos bem mas que nos surpreende e nos faz dançar num sitio onde nos fomos conhecendo debaixo de um som que não nos deixava ouvir o que dizíamos e que nos fez conhecer os gestos de que gostávamos um no outro.
é só isto:)

2 comentários:

diga lá então...