quarta-feira, 1 de junho de 2011

A de sempre

Querida avózinha,
hoje escrevo-te mais próxima.
Só porque quero falar de ti e não há ninguém melhor do que tu para falar de ti.

Lembrei-me daqueles tempos em que te sentavamos no sofá na rua e passavas lá a tarde.
Um dia desses andei de bicicleta à tua frente, na rua, para que visses que eu sabia andar muito bem. Acho que também cheguei a andar de patins...
São daquelas coisas que fazemos para que vejam como fazemos bem as coisas... E eu gostava tanto que visses como sabia andar.

Acho que é por isso que agora tenho medo de cair. Porque já não estás a olhar, já não podes dizer "muito bem!", porque...

Um dia passei horas e horas a falar de ti a uma amiga. No dia seguinte tinhamos uma frequência, mas era viciante, dava uma sensação de alegria falar de ti, não conseguia parar... Falava das coisas que dizias que vias, dos teus gestos, das tuas rotinas, das tuas histórias. Essa minha amiga fazia perguntas, muito atenta e cuidadosa perante as minhas palavras.

Achava que já me estava a habituar a toda esta história de não estares lá em casa, de ir ao cemitério e já não chorar, de pensar em ti e conseguir não ficar triste...

Achava até hoje.

"e há um momento em que a alma nos rebenta nas mãos"

Mas depois passa. Porque há aquela coisa que ainda não sei o que é que ajuda. Ajuda a estarmos perto, a estarmos calmos. A passar.

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