Depois de sentados a mesa ficou, sem planeamento, dividida.
Lado esquerdo para os homens, lado direito para a senhoras.
A tarde já ia longa, mas os enchidos e o pão despertavam o apetite. E a hora que o senhor demorou a preparar todo o lanche levou-nos a sentar e conversar mais um pouco.
E depois... depois veio aquele momento, um daqueles que serão únicos para sempre e para os quais temos de estar atentos.
"Desculpa não ter vindo mais cedo, mas eu emociono-me sempre com estas coisas" - disse o homem
"Oh, não faz mal, nós percebemos" disse a mulher.
Depois houve aquela pausa, sabem?
Aquela em que todos sentem a força e proximidade com aquelas palavras.
Ainda ninguém as tinha dito, ninguém tinha revelado o porquê de ter demorado a ir ali.
Ninguém.
Mas aquele homem, um daqueles que aparentam a força da guerra, que trabalham no campo para dar de comer aos filhos, disse-o, à frente de todos, sem medo de revelar os medos e as fraquezas.
A pausa termina e o outro homem também deixa cair a armadura.
"Estou-te muito agradecido. Naquele dia em que ninguém sabia de nada mas tu sabias, nós passamos por ti, estava lá mais gente, e para que ninguém percebesse mandas-te um beijo para ela, que estava dentro do carro"
Este homem demorou alguns minutos até conseguir dizer esta frase.
Demorou porque quando ia começar a falar a emoção foi demasiada para aquele corpo que já foi atirador e que um dos seus maiores medos foi atravessar uma barreira de soldados inimigos.
Não chorou, porque os homens não choram perante as suas amadas e frágeis mulheres.
Porque são homens de Vida. Porque o silêncio ainda ajuda a acalmar a dor.
E voltou o silêncio. Ouviam-se pães a ser cortados, vinhos a serem bebidos, carros a passarem lá ao fundo.
As Coisas Importantes e que Ficam Sempre Latentes lá Dentro, Foram Ditas.
E não interessa porquê.
As conversas sobre outras coisas foram retomadas.
Há quem fique muito contente e aliviado porque ela se estar a aguentar, porque fala mais, porque mostra a dureza das mulheres que têm homens de barba rija a lutarem com elas.
"Vê, agora não tem que gastar dinheiro para pintar o cabelo" digo eu. E a frase foi dita de forma cúmplice, baixinho, para que ela falasse mais um pouco e percebesse que afinal, ele vai voltar a crescer.
Ela ri-se "pois, isto agora é só vantagens, só preciso de comprar chapéus"
Esta é uma das minhas famílias emprestadas que o universo aprontou.
Esta foi uma das tardes mais importantes da minha vida.
Esta foi uma das grandes provas das coisas que defendo e que, no final das contas, interessam.
As lágrimas presas no coração, o baixar as armas, a força, a coragem, o aceitar os desígnios dos dias, as provas difíceis.
O resto são... merdices. O resto só interessa a quem não sabe e nem quer saber. E esses...esses não valem nada.
Fico grata.
No final não dizemos o que queremos dizer.
"Força" é sempre a palavra que sai.
Só nos resta confiar e continuar as visitas.
Por que a felicidade não é o que o mundo pensa que é.
E nestas visitas levamos as palavras que lhe fazem falta.
arrepiei a ler este texto filipa:)
ResponderEliminares especial sabes?
Só quero agradecer por ters estado la e mais importante, por ters gostado de lá estar.
Beijinho grande